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Spirit Shop Delusional REI-MAR

26 - 28 set
19h - 21h
Casa de Santa Maria

Inês Brites
Guilherme Figueiredo
Ana Jotta
Luís Lázaro Matos
Sreya
Maria Ventura

A tradução da palavra inglesa “delusional” para português é “delirante” ou “ilusório”. O termo é usado com bastante frequência para descrever uma pessoa ou uma situação que se considera para além da norma, que habita uma outra realidade. A palavra pode descrever uma situação que está fora do entendimento colectivo e reflecte o estado de uma pessoa que vive fora do contexto.

A prática artística é muitas vezes vista como algo que está para lá do entendimento comum, um lugar ficcional onde se cria um entendimento do mundo diferente e particular. Os artistas são muitas vezes confrontados com uma ideia romantizada do que significa fazer arte por parte daqueles que olham o mundo com a racionalidade da ordem e do progresso. O nível de experimentação praticado em qualquer área, seja na ciência, nos negócios, na vida, é algo muito presente na produção de obras de arte. Podemos falar de um tipo de liberdade que se manifesta em escolher materiais, formas e cor, que juntas produzem um conteúdo e uma abordagem que intercepta o espectador pela surpresa e pela fruição de uma experiência única e inédita.

A intervenção que a Spirit Shop apresenta na Casa de Santa Maria, no contexto da celebração do Bairros dos Museus, parte da palavra “delusional” para pensar neste lugar como espaço de possibilidades e projecções do mundo, a partir da obra de cada um dos artistas convidados. A história e tipologia da Casa remetem para a fantasia de um lugar que viveu, durante muitos anos, limitado à casa de família, símbolo do poder económico dos seus proprietários, afastado no mundo. A abertura deste espaço ao público revela, como em qualquer espaço doméstico, as peculiaridades e os detalhes, que são a alma de qualquer construção. O carácter fantasioso do trabalho de Raúl Lino, que desenhou este espaço, demonstra o seu contributo para a arquitectura de um romantismo tardio, que prolongou e ajudou a construir uma narrativa da identidade nacional baseada em costumes normativos, estendendo os padrões de uma sociedade hierarquizada e muitas vezes opressiva.

A intervenção da Spirit Shop na Casa de Santa Maria tenta pensar uma outra realidade para este espaço, inspirada na descrição do mítico bar Reimar, em Lisboa, descrito por José Manuel dos Santos no seu texto “O espelho vazio”, que o autor frequentava com o seu amigo Mário Cesariny. O mundo que se desenrolava no Reimar era um universo paralelo àquele que se vivia em Cascais, mas muito real e repleto de figuras que só existem nos filmes. Cito o autor: “E, se Cesariny era um enviado do fogo, havia também apolíneos e dionisíacos, enviados (alguns fardados) dos outros três elementos, terra, mar e ar, a que se juntavam, em temível contraste, anões, gigantes coxos, zarolhos, corcundas, gagos e mudos. ‘Tudo boa gente’, dizia Cesariny. E acrescentava: “Comparado com isto, o que Ulisses viu na viagem de regresso a Ítaca era banal...”

Spirit Shop é um projecto iniciado por Pedro Barateiro a partir de uma obra de sua autoria, com o mesmo nome, feita em 2017. O projecto começou em 2018, no atelier do artista na Rua da Madalena, e contou com diversas exposições individuais e colectivas, performances, screenings e conversas, viajando depois para Elvas no evento MACE 15 anos – Aqui somos rede, pelo espaço Buraco, em Lisboa, e Belo Campo, na Galeria Francisco Fino, entre outros.

Curadoria: Pedro Barateiro

Artistas: Ana Jotta, Guilherme Figueiredo, Inês Brites, Luís Lázaro Matos, Maria Ventura, Sreya


Inaugura no dia 26 de setembro às 19h.

ENTRADA LIVRE